Proposta de texto para cena - O encontro com HumTata 18-03-2025

Encontro com HumTata

    Naquele dia eu estava andando em busca de alguma coisa que eu não sabia o que era. Decidi seguir uma trilha por dentro do cerrado virgem. O céu azulado e as árvores retorcidas me recebiam com seu alegre silêncio. Era um silêncio tão profundo. Só dava para ouvir os meus próprios passos no chão vermelho das terras candangas. De repente eu sinto uma força, uma energia desconhecida me puxando para fora da trilha, para dentro da densa folhagem das braquiárias. Não pude resistir e entrei. Segui algumas centenas de passos mata adentro até encontrar uma árvore cerratense de casca grossa e folhas finas. Fiquei intrigado com aquele ser que mesmo mudo conseguiu me chamar até ele. Senti-me impelido a tocá-lo, abraçá-lo, sentir seus rústicos cascos em meu rosto. Naquele momento eu me sentia tão próximo daquele ser que me havia convidado para dentro do seu santuário que, loucamente, me ocorreu perguntar o seu nome. Como você se chama?... E esperei atento para receber alguma resposta. Não ouvi nada, afinal estava conversando com uma planta, um ser que não saberia se comunicar comigo utilizando o meu dialeto. Talvez nossa intimidade não fosse suficiente para introduções, então subi na árvore, encontrei um galho deitado e me agarrei nele com muito amor. Como você se chama? (espera a resposta). Logicamente, não ouvi nenhum som, mas isso não significa que não houvesse uma resposta. Talvez eu não estivesse conseguindo entendê-la, ou talvez ele não soubesse falar o português do Brasil... Mas aquele abraço estava tão delicioso que não pude evitar de perguntar novamente seu nome, porém, dessa vez, sem palavras. E foi então que eu ouvi uma resposta, a árvore me falou baixinho o seu nome: HuummmTata. HumTata, eu respondi, muito prazer em conhecê-la. E com esta introdução senti um frisson gostoso encostando em minha nuca: eram as folhas de HumTata que deliciosamente me apalpavam. HumTata, significa "aquele que acaricia com amor". Naquele momento o calor do sol e a beleza azul ozônia do céu me traziam tamanha paz que, sem resistir dei seguimento aquele abraço... tirei lentamente a camisa para não assustar o meu novo amigo com minhas intenções e esfreguei minha pele nua sobre seus áridos cascos. Em retorno, HumTata farfalhava suas folhas sobre as minhas costas com carinho e meu couro se ouriçava de um suave prazer. De afago em afago seguíamos nos embebedando de frissons, toques, esfregões e palpitações errupcionando hora devagar, hora espasmódicas. HumTata! HumTata! HuuummmmmTata! Quando finalmente, admirado, o próprio céu nos olhou magníficamente azul e irrompeu em lágrimas de felicidade. Em meio a suspiros resfolegantes eu olhei para HumTata, beijei seu firme tronco, senti o cheiro das suas folhas molhadas e agradeci aquela trepada perfeita.







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