Encontro com Márcia Duarte - Improviso com Piano e Voz e Água com Voz (07-02-2025)
Encontro do dia 07 de Fevereiro de 2025
Hoje experimentei me jogar na proposta vocal que a Márcia me provocou no último ensaio. Trouxe o piano e uma bacia com água.
Sobre o tema do espetáculo/investigação: “O CAMINHO”
O que você faz pra se iluminar?
O que você faz pra transcender?
Ações que te iluminam, que te levam pra outro estado é uma provocação deste espetáculo.
Isso tudo se trata de um caminho a ser percorrido. Percebemos que para poder encontrar ações que nos fazem entrar nesses estados transcendentes é preciso entrar na ação, isto é, explorá-la, investigá-la, percorrer o caminho daquela ação até que a ação e o atuante se tornem a mesma entidade. Não se trata de um ator realizando uma ação, mas de uma ação que se torna tão forte que ela aos poucos vai eliminando o ator até ele se tornar apenas a ação.
Me lembra a citação de Bruce Lee em seu O Tao do Jeet-Kune-Dô “O importante é o realizar, não as realizações. Não há o ator, mas a ação. Não há aquele que experimenta, mas a experiência”.
O processo então se dará ao encontrar ações instigantes o suficiente para que eu possa imergir nelas até me perder.
Experimento com o Piano e Voz
Esse experimento já dá uma cena em si. A ideia é tocar sem um plano prévio, mas sentindo cada nota a cada momento de maneira a entrar na vibe do som, no transe do som. A Márcia me sugeriu entrar mais gradativamente na viajem de maneira que o público possa acompanhar a transição.
Auto-crítica artística: qual é o lugar da atitude performática?
Um dificuldade que tenho resulta da minha facilidade de criar formas estéticas interessantes. Essa tendência, mesmo que gere resultados visualmente interessantes, de alguma forma sobrepõe a conexão direta com o público. Nesse sentido a coloquialidade talvez seja uma estratégia mais eficaz, falar e agir diretamente com as pessoas e não performaticamente “fazendo uma cena”, para então deixar que a forma apareça em momentos específicos que necessitam ou demandam uma visualidade mais formalmente estética. Essa é uma dificuldade que tenho desde o Ensaio Geral da ATA e que, curiosamente, decorre não de uma inabilidade, mas de um excesso de habilidade. Um foco demasiado no mostrar para o outro e pouco no tocar o outro.
Brincadeira musical com a água
Um jogo/ação que descobrimos foi o de brincar ritmicamente com a água e ir transformando essa ação em som quando a água acaba. Mais uma vez a ideia é entrar no “transe” e se deixar levar até o final.
Tem uma pedra no meu caminho + história da minha mãe aprendendo piano
“Esse espetáculo é sobre transcendência. Na verdade é mais sobre o que você faz pra se iluminar? E eu não estou falando de uma iluminação budística, não é de sair do sansara ou receber o espírito santo. Estou falando do corpo, dessa membrana que separa a gente do mundo. O que a gente faz com essa separação. Com essa coisa que não é. Não é o mundo, não é tão grande quanto o mundo, mas tem a sua própria grandeza. Muitas vezes na vida a gente está andando pelo mundo, caminhando pelo mundo e, coisa mais incrível, a gente esbarra numa dificuldade. Uma pedra. (no meu caminho tinha uma pedra, tem uma pedra no meio do caminho). E aí podemos pensar: tem uma pedra no meu caminho, mas eu tenho que atravessar. Tenho que seguir meu caminho, mas tem uma pedra. Normalmente estamos distraídos e a gente nem vê a pedra. A gente passa e de repente perdemos uma oportunidade de fazer uma coisa grandiosa. Estou andando e tem uma pedra no meu caminho e eu tenho que atravessar. (atravessa a pedra). A pedra de antes era tão pequena que nem apareceu no meu radar. Já essa pedra não é tão simples de passar. Como é que eu posso atravessar? Porque o corpo pode. Ele pode fazer coisas. Eu posso descobrir e ver como que eu posso atravessar a pedra. (atravessa a pedra divertidamente). Era só uma pedra, mas agora virou uma coisa mais divertida. (atravessa de diversas formas diferentes). Atravessei. Obrigado pedra. Tantas maneiras de fazer as coisas na vida. Tava falando com a minha mãe e ela agora está aposentada. Depois de passar tanto tempo na vida fazendo coisas pra sobreviver ela agora quer se divertir, desenhar, tocar etc... Ela sabe que eu sou artísta então ela me pediu me dá umas aulas de música. Ela gosta do piano. Mas quando alguém pede aula de música, muitas vezes ela não sabe o que ela quer com a música. Então você passa técnica. E lá vai ela trabalhando a técnica. (mostra como estuda técnica até se irritar e bater no piano) Quem é que aguenta essa merda. Aí eu falei pra ela, faz o seguinte: senta no piano e faz o que você quiser. (Senta e faz o que quiser) Olha só o que eu descobri! Mostra a descoberta. Até o mundo se encanta quando você se encanta. É mágico.”
Registros:
Parte 1:
https://youtu.be/tVRAFe1Z1nI
Parte 2:
https://youtu.be/Zcqj573iWoY
Parte 3:
https://youtu.be/J1g_pqilkNA
Parte 4:
https://youtu.be/ZNs8FFP3FiI
Parte 5:
https://youtu.be/fRzxdNkBKUg
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